Através da Associação de Reflexão e Ação Social (Aras/Cáritas), Igreja convoca comunidade a refletir sobre a temática
O primeiro passo para chamar a atenção pública sobre as consequências de uma atividade agrícola altamente dependente dos venenos, na região arquidiocesana de Maringá, foi dado no final de setembro (26). Uma mesa redonda abriu o debate com o professor e mestre Paulo Perna (membro do Observatório de Agrotóxico da UFPR); o promotor doutor Maurício Kalache (da 6ª Promotoria de Justiça Direitos Constitucionais, Habitação e Urbanismo, Educação, Consumidor e Ordem Tributária); e Dirceu Vedovello Filho (Promotor de Saúde Profissional, Médico Veterinário – mestre em Ciências da Saúde - Seção de Vigilância Sanitária, Ambiental e Saúde do Trabalhador, 15ª Regional de Saúde - Maringá – PR).
Nesse primeiro encontro, o enfoque principal foi a saúde. Quem abriu os trabalhos foi o professor da UFPR. Paulo Perna tratou dos dados estatísticos que destacam o Paraná como o segundo Estado que mais consome agrotóxico no Brasil. Além disso, o representante do Observatório mostrou as consequências desse consumo exagerado em nível local.
Segundo o especialista, este é um assunto muito complexo e que exige a atenção e o amplo debate. Muitos alimentos estão contaminados; o consumo médio de agrotóxico, no Estado, é muito alto e só tem aumentado; 29 dos 50 produtos mais utilizados nas lavouras do Paraná são proibidos no resto do mundo; tem crescido o número de notificações por agrotóxico; a contaminação está na água que consumimos, como mostram os dados da própria Sanepar; os animais estão morrendo. “Enfim, é muito importante termos consciências desses fatos e fazermos algo para reverter isso”, comenta o professor.
Saúde
O segundo a tomar a palavra foi o representante da 15ª Regional de Saúde de Maringá. Vedovello Filho apresentou informações referentes às taxas de incidências de anomalias congênitas nos municípios do Paraná. Segundo o médico veterinário, na macrorregional Noroeste, 37 municípios apresentam taxas médias mais elevadas que a média estadual. Tal índice, segundo ele, poderia estar relacionado ao uso excessivo de agrotóxicos.
Além desse, o representante da Secretaria de Estado da Saúde trouxe dados sobre a média de consumo de agrotóxicos por hectares nos municípios da arquidiocese; o número de notificações de Intoxicação por agrotóxicos; e falou das frequentes intoxicações que ocorrem tanto nas zonas rurais quanto nas urbanas.
Representando o ministério Público, o Dr. Maurício Kalache considerou a importância da atuação dos profissionais da área de agronomia, junto aos processos de produção agrícola bem como suas respectivas responsabilidades éticas com a questão do uso dos agrotóxicos. Ele ainda defendeu que é um direito do consumidor a opção de escolha quanto aos produtos que deseja consumir, salientando, assim, a importância de favorecer também a produção orgânica e agroecológica.
Após as exposições, o debate foi aberto com direito às perguntas do público. Além de estudantes de diversas áreas e demais representantes da comunidade em geral, muitos agrônomos e advogados participaram do evento.
Sequência
Segundo a responsável pelo Projeto, Érica Daiane Mauri, este foi apenas o primeiro evento aberto ao público. “Continuaremos com o levantamento e popularização dos dados referentes a esta temática nos municípios da arquidiocese. Já estamos, inclusive, trabalhando na organização da próxima mesa redonda, trazendo para a discussão as áreas do meio ambiente, setor agrícola e do Ministério Público do Trabalho”, comenta a especialista, que mediou o evento desta semana.
De acordo com Érica, por ser uma temática inter geracional, que envolve diretamente questões básicas de subsistência (produção alimentar, qualidade ambiental - água, ar, solo, biodiversidade); e saúde humana, a necessidade de promover mais debates como este é indiscutível. “Quanto maior a participação de todos, melhor será o debate e maior o esclarecimento”, comenta.
Quanto ao papel de cada cidadão, nesse tema, Érica afirma que o primeiro passo é buscar informações seguras que permitam uma boa reflexão e conhecimento sobre o assunto. “É preciso também conhecer e reconhecer que existem muitas outras formas de produção agrícola viáveis e seguramente menos agressivas ao meio ambiente e à saúde humana”, orienta.
É direito de todos, segundo a representante da ARAS, o acesso a estes produtos, com preço acessível, que possibilitem ao consumidor fazer a escolha. “Para isso é preciso cobrar das autoridades meios que favoreçam esta disponibilização de informações (das mais diferentes áreas) e o acesso aos produtos que não demandam o uso intensivo de agrotóxicos”, conclui.
Dados
A região arquidiocesana de Maringá engloba 25 municípios. Segundo levantamento realizado pela bióloga responsável pelo projeto que resultou neste evento, intitulado “Agrotóxicos – o envenenamento da Casa Comum”, a média nacional de consumo de agrotóxico chega a 7,3 litros por pessoa, por ano. No Paraná, esta média sobe para 8,7 litros.
Dados do Observatório do Agrotóxico da UFPR, de julho deste ano, mostram que a média desse consumo, nos municípios da região da Arquidiocese de Maringá, é de quase 21,82 litros por pessoa/ano. Ou seja, os dados são assustadores, pois refletem diretamente na saúde da população desses locais e no meio ambiente.
Cáritas Arquidiocesana de Maringá Ocupa Assento Significativo