DIA 1º DE MAIO EM TEMPOS DE PANDEMIA
Como não pensar nos trabalhadores e trabalhadoras do Brasil e do mundo, em tempos de pandemia? O cenário gerado pelo COVID 19 reúne uma série de fatores que nos fazem olhar para o tempo presente com outros olhos: milhões de pessoas contagiadas, milhares perderam a vida, inúmeras estão contaminadas, sem que se conheça esse número. O mundo entrou em reverso! Apesar da nossa aparente incompreensão sobre o transcorrer das coisas, uma certeza permanece, é preciso defender a vida e reinventar as formas do viver.
E como viver sem o trabalho? Seguir com a vida sem colocar como prioridade a sua continuidade, ignorar o primordial valor daqueles que trabalham, é algo impensável, porque, a força criativa que aproxima e transforma o homem e a natureza é o trabalho.
É preciso lembrar, historicamente o Primeiro de Maio está associado à defesa da causa operária, ao protesto, a luta e consciência de classe, bem como, a resistência às condições precárias de trabalho, emprego e renda. O episódio nos Estados Unidos da América que marcou essa data como um dia de mobilização dos trabalhadores e trabalhadoras, se refere à greve dos operários que reivindicavam a redução da jornada e trabalho de 13 horas para 8 horas diárias. A palavra de ordem era “redução da jornada, sem redução do salário”. Nada mais inspirador para tempos de pandemia, uma vez que, no Brasil, centenas de trabalhadores formais vivenciam a cruel situação de terem seus salários brutalmente reduzidos, além da não garantia de seus empregos. De outra parte, trabalhadores informais, estão sujeitos a toda sorte de mazelas, por não terem previsibilidade de ganhos, nem de trabalho. Repete-se a pergunta: como viver sem trabalho?
O 1º de Maio nos leva a refletir sobre o lugar do trabalhador no mundo contemporâneo, na história e na transformação da realidade social, pois sem o trabalho, não existe vida. A frase em sentido contrário fica melhor: a vida se transforma quando se tem consciência do valor do trabalho que se realiza e, por isso, é preciso defendê-lo. A referência aqui não é individualista, pensemos no trabalhador de maneira grupal, como força coletiva que pode transformar a realidade social no mundo pós-pandemia. É necessário pensar-se como parte de um todo e projetar uma sociedade capaz de fundar uma outra economia, a partir de uma nova cultura, experimentando outras formas de sociabilidade. Afinal, a história do trabalho é indissociável da história dos povos.
Meire Mathias - Coordenadora da Escola de Cultura, Fé e Política, Cáritas Arquidiocesana de Maringá, Docente do Departamento de Ciências Sociais da UEM.