Cultura, Fé e Política: compreender para transformar!
É possível aprofundar o entendimento e reafirmar o nosso compromisso quanto à “opção preferencial pelos pobres, oprimidos e excluídos”? Compreender o mundo atual não é coisa fácil, sobretudo quando não estamos dispostos a abrir mão da nossa fé para a leitura das coisas. Olhar para a realidade e querer perceber o que está no profundo, aquilo que não é aparente, leva tempo, pede dedicação, tem haver com a calmaria. Isso não quer dizer falta de problemas, ao contrário, são tantos que, se andarmos às pressas, deixamos de analisar as tramas da vida, da fé e de tudo aquilo que transforma para melhor, ou pior, a vida de todos e todas.
A Escola de Cultura, Fé e Política da Cáritas Arquidiocesana de Maringá, nos proporciona a realização dessa reflexão! O pensar o mundo, a cultura, a política e a fé, na constituição das coisas da vida e da igreja povo. Compreender como chegamos aos dias atuais, entender as ações humanas, perceber o porquê das injustiças, contudo, sem perder a esperança na construção de uma realidade social em que a dignidade não seja um bem menor, que a pobreza não seja naturalizada, onde se possa ver a realização do bem-comum.
Nossos primeiros passos nessa caminhada se guiam pela ótica da Fé. Cientes de que a igreja não nasce de “Deus/céu” e sim a partir de Deus, melhor compreendemos que nasce da realidade que vivenciamos. Cientes de que o Concílio Vaticano II é uma referência positiva quando nos propomos à pastoralidade transformadora, porque instituiu como prioridade a necessidade de se planejar a ação pastoral, o que nos leva a compreender que não se trata apenas de acolher doutrina, mas de um verdadeiro compromisso, qual seja, a ação social é condição indispensável à vida cristã. Reconhecemos que o altar do leigo é na comunidade, na família, no trabalho.
A Doutrina Social da Igreja nos faz entender que toda fé é política, o que não significa dizer que toda política é fé. É preciso estar atento, observar a diferença das coisas, porque Fé e política não podem ser tratadas em separado, embora cada uma tenha a sua especificidade. Lembra-se que a fé nos conduz ao outro, sua natureza é coletiva, mesmo quando remete a individualidade; já a política se refere à organização daquilo que é comum, se refere à coletividade humana. Assim sendo, elas se articulam. A fé se expressa na política para o bem do outro. E isso não quer dizer que uma deva prevalecer sobre a outra, mas é preciso reconhecer que Fé e política se relacionam. Definimos que a política deve promover a dignidade por estar a serviço do bem comum.
O compromisso da Fé e a consciência política nos fazem enxergar o caminho das mudanças e o sentido da nossa ação social. Questionar “verdades” não significa negar princípios, muito menos a nossa Fé. O acesso a fontes de informação confiáveis, científicas e fora do controle da grande impressa, nos possibilita pensar que as diferenças, o outro, não são um problema. Pensar de maneira crítica não exprime pensar de maneira depreciativa, significa adquirir conhecimento, analisar as coisas sob mais de um prisma e, a partir disso, decidir e agir.
A questão social é algo tão comumente falada e, ao mesmo tempo, pouco compreendida. Invariavelmente debatemos a questão, mas, se por um lado, largueamos o conjunto de temas e problemas que a compõe, por outro lado, nos falta tempo e maior conhecimento quanto a analisar e sobre como lidar com cada um deles em nossa prática social cristã. Ao longo do curso, aprendemos que na apreciação ou na ação, não se pode separar as dimensões social, econômica, política e cultural, porque estão todas interligadas e, por isso, constituem o dilema na construção de uma nação soberana, independente e socialmente justa. Estudamos também que a nação não é estática, ela nasce e renasce, se transforma conforme o movimento de cada povo, forças sociais, formas de trabalho e de vida, movimentos sociais e de igreja e na construção e defesa do bem comum.
Povos originários, da floresta, negros, mulheres, migrantes, desempregados, trabalhadores, entre tantos outros, são aqueles que dão rosto, sofrem e necessitam que se resolva a questão social. Conhecer mais profundamente sobre cada um desses grupos nos fez superar o desconhecido, nos faz melhor conhecer a nossa sociedade, o nosso país e o mundo. Ao mesmo tempo, nos fez compreender que somos parte de um todo, somos uma coletividade. Aceitar outra cultura, reconhecer outras formas de convívio, repensar a economia, defendê-la solidária não faz parte de algo inatingível, desde que se saiba do que estamos tratando, o quê queremos e porque o almejamos.
A Escola de Cultura, Fé e Política, nos possibilitou melhor apreender os povos, a história, a cultura, os movimentos sociais, os processos políticos e também a real importância da participação, enquanto meio democrático de construção da realidade social. Não nos resta dúvida de que a pastoralidade é transformadora, que abranger os elementos que geram a crise se faz necessário na transformação da realidade e dos aspectos que a compõe. Temos consciência de que profetismo e resistência não se separam da esperança, sendo bases para o bem viver.
Turma 2019
Escola de Cultura, Fé e Política
Cáritas Arquidiocesana de Maringá