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MIGRANTES NO BRASIL: realidades e perspectivas do ontem e do hoje

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MIGRANTES NO BRASIL: realidades e perspectivas do ontem e do hoje

 

Somos todos migrantes. É muito comum que você já tenha ouvido esta máxima e, até mesmo, que se identifique com ela. Entretanto, cabe aqui uma reflexão para além da superficialidade deste pensamento.

 

Em reuniões familiares, refletindo a origem da família, provavelmente você já ouviu alguma história de um avô – ou qualquer outro grau de parentesco – que tenha vindo de outro país e estabelecido lar no Brasil.

 

É possível, ainda, que você mesmo seja este imigrante ao qual eu me refiro aqui.

 

Durante nossa vida escolar, sobretudo nas aulas de história e geografia, aprendemos sobre a diferença entre imigração e emigração, na qual o primeiro termo representa a chegada e estabelecimento de pessoas em outro país e o segundo termo representa a saída de pessoas de um país, em busca de outras oportunidades de vida em um território diferente.

 

Porém, nos últimos anos, teóricos e pesquisadores têm optado apenas pelo uso do termo migrantes, já que quem se desloca não apenas sofre influência da chegada ou da saída, mas sim de ambas. Dessa forma, ao migrar, convive-se tanto com a memória das marcas do passado e de suas trajetórias quanto com as expectativas e desafios da nova realidade.

 

Para além dessa questão conceitual, migrar, na prática, refere-se ao ato de deslocar-se. E o ato de deslocar-se está atrelado a várias outras temáticas, principalmente relacionadas ao campo da educação e trabalho.

 

A partir desse ponto de vista, se você já se deslocou em algum momento, por conta de formação escolar/acadêmica, por motivos de trabalho ou outros quaisquer, você pode considerar-se um migrante. E é aqui que a ideia de sermos todos migrantes se confirma.

 

É válido ainda ressaltar que o substantivo todo é inclusivo, dessa forma, não deveria gerar nenhum tipo de exclusão ou diferença.

 

Mas, atualmente, quando olhamos atentamente a sociedade ao nosso redor, vemos muitos migrantes excluídos de espaços que são universais, ou seja, para todos.

 

O que mudou?

 

Como pode o mesmo país ter sido tão receptivo, acolhedor e próspero para migrantes que chegaram em solo brasileiro até o século XX e tão fechado, violento e indiferente com os migrantes dos novos fluxos migratórios?

 

Nas ciências humanas, há uma explicação teórica para isso – o conceito de securitização migratória.

 

No Brasil, as cenografias sociais nos séculos XIX e XX eram favoráveis aos migrantes, sobretudo aqueles de padrões europeus, pois havia um grande projeto de embranquecimento da sociedade. Nesse sentido, quanto mais pessoas brancas se estabelecessem em território brasileiro, mais fácil seria o processo de miscigenação e transmutação de um país negro para um país branco.

 

É por este motivo e outros, que, aos migrantes europeus que chegavam no Brasil eram ofertados terras e empregos, ao passo que o desemprego e exclusão do povo negro brasileiro aumentava.

 

Não quero com isso silenciar a dor e as dificuldades vivenciadas por migrantes europeus – ou de outras regiões do globo terrestre – em momentos anteriores aos novos fluxos migratórios. Sabe-se que as longas viagens de navios, a separação familiar, o medo do novo, as doenças epidêmicas da época, a dificuldade de comunicação e a condição de estrangeiro também afetaram negativamente muitas pessoas nesse período. O que quero aqui, não é negar tal sofrimento, mas refletir acerca da forma como a grande maioria conseguiu se estabelecer em contraste com os migrantes que chegam no Brasil nas últimas décadas.

 

Atualmente, não é difícil encontrar migrantes desempregados, nas ruas silenciosamente gritando por socorro. Além disso, é fácil encontrar discursos que definem os migrantes como uma ameaça aos empregos dos brasileiros.

 

É nessa mudança que se percebe o teor securitizador das novas migrações. O migrante não mais acolhido como antigamente, já que, agora, ele é visto como estranho, diferente, uma ameaça cultural, social e econômica.

 

Acolher migrantes em sua totalidade é um dever civil de cada cidadão brasileiro. Se, ao olharmos para nosso passado encontrarmos histórias e resquícios de migração, precisamos assumir o papel de filhos dos processos migratórios e rever nossas ideias acerca daqueles que, atualmente, vivenciam isso na prática.

 

Nem sempre migrar é escolha. Muitas vezes a migração é forçada em decorrência de conflitos políticos, religiosos ou agravamento de questões sanitárias e ambientais. O migrante, muitas vezes vulnerável e separado de suas famílias, chega apenas com seu corpo e sua esperança no Brasil.

 

Há quem nem documentos consegue portar.

 

E, além de tudo, ainda precisa lidar com o racismo, a xenofobia, a exclusão, o estigma, a pobreza, a solidão, a dificuldade de se fixar e a impossibilidade de voltar.

 

A sociedade brasileira tem muito o que repensar na acolhida de migrantes. Acolhida esta que deveria ser garantida pelo Estado e por todos, já que somos todos migrantes. No entanto, infelizmente, esta ainda é uma iniciativa de poucos.

 

E, então, somos todos migrantes?

 

Giovani Giroto

Membro da Comissão de Migração e Refúgio da

Cáritas Arquidiocesana de Maringá.

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