14 de novembro: Dia Mundial dos Pobres
“Pobres sempre tereis entre vós” (Mc 14, 7)
A inspiração bíblica desta 5ª Jornada Mundial dos Pobres – “Pobres sempre tereis entre vós” – se não compreendida em seu sentido originário, pode despertar em algumas pessoas um certo conformismo nada condizente com espírito da Palavra de Deus. Quando Jesus disse: “pobres sempre tereis entre vós”, Ele não estava dizendo aos seus discípulos que não se preocupassem com os pobres porque a pobreza faz parte natural da condição humana. Basta olharmos para a vida toda de Jesus e veremos que grande parte do seu tempo e do seu trabalho fora dedicado aos pobres, aos leprosos, mendigos, paralíticos, cegos etc.
Esta citação está contida dentro do texto que narra a unção de Jesus em Betânia (Mc 14, 3-8), segundo o qual, "Jesus se achava em Betânia, em casa de Simão, o leproso. Quando ele se pôs à mesa, entrou uma mulher trazendo um vaso de alabastro cheio de um perfume de nardo puro, de grande preço, e, quebrando o vaso, derramou-o sobre a cabeça de Jesus. Alguns, porém, ficaram indignados e disseram entre si: “Por que esse desperdício de bálsamo? Poderia ter sido vendido por mais de trezentos denários, e serem dados aos pobres”. E irritavam-se contra ela. Mas Jesus disse-lhes: “Deixai-a. Por que a molestais? Ela me fez uma boa obra. Vós sempre tendes convosco os pobres e, quando quiserdes, podeis fazer-lhes bem; mas a mim não me tendes sempre. Ela fez o que pode: embalsamou-me antecipadamente o corpo para a sepultura."
O Papa Francisco nos recorda em sua mensagem para o 5º Dia Mundial dos Pobres que: “Segundo o Evangelho de João, é Judas que se faz intérprete desta posição: ‘Porque é que não se vendeu este perfume por trezentos denários, para os dar aos pobres?’. E o evangelista observa: ‘Ele, porém, disse isto, não porque se preocupasse com os pobres, mas porque era ladrão e, como tinha a bolsa do dinheiro, tirava o que nela se deitava’ (Jo 12, 5-6).” De acordo com esta passagem do evangelista João fica claro que o discurso de Judas não se referia à uma preocupação real para com os pobres, ao contrário, tratava-se de um ressentimento pelo fato do dinheiro não ter chegado até a bolsa comum de onde ele poderia desviá-lo para interesses próprios. Precisamos estar atentos, pois ainda hoje tem gente usando os pobres para alcançar benefícios próprios.
De acordo com o texto do evangelista Marcos, ao aceitar a unção oferecida por aquela mulher, Jesus não apenas não despreza o cuidado para com os pobres, como vai além, Ele se faz o mais pobre de todos os pobres. Jesus, pobre, aceita que aquela mulher prepare antecipadamente o seu corpo para a sepultura. Se observarmos a narrativa da morte e sepultamento de Jesus, vamos perceber que ao ser tirado da cruz, Jesus não tinha um túmulo para ser sepultado, outros tiveram que lhe doar uma sepultura e fazer-lhe a preparação do corpo. Jesus morre pobre como muitos de nossos andarilhos e mendigos de hoje, os quais dependem de pessoas ou instituições generosas que lhes ofereçam um túmulo onde seu corpo desfalecido possa repousar em paz.
A frase “pobres sempre tereis entre vós”, longe de gerar um conformismo, ela nos desafia a olharmos os pobres que temos entre nós e vermos neles o próprio Jesus que se faz necessitado de nossa atenção e cuidados. Assim como aquela mulher que se comoveu com a pobreza de Jesus e ofereceu-lhe não apenas uma pequena esmola, mas 300 denários (o que era equivalente à um ano de salário de um trabalhador), que também nós aprendamos a abrir nosso coração e nossas mãos para socorrer os pobres que estão ao nosso redor.
Vale sempre a pena recordar as palavras de Santa Dulce dos Pobres, a santa brasileira, o anjo bom do Brasil. Segundo ela: “Somente quem convive com o pobre pode compreendê-lo. Muitos acham que faço demais, que dou atenção demais aos pobres, e me criticam por isso. Cada um de nós não gostaria de ser bem acolhido, de receber todas as atenções espirituais e materiais? No princípio de nosso trabalho – e hoje ainda – havia quem achasse que dávamos demais aos pobres, que fazíamos demais por eles. Pergunto: É demais o que fazemos a Deus? Ele não merece tudo de nós? Se o pobre representa a imagem de Deus, então nunca é demais o que fazemos aos pobres.”
Por fim, convidamos todas as paróquias, pastorais, movimentos e organizações religiosas ou não para desenvolverem ações durante a 5ª Jornada Mundial dos Pobres que inicia-se no dia 7 e estende-se até o dia 14 de novembro. “Pobres sempre tereis entre vós”. Que não deixemos os pobres de hoje na invisibilidade e no anonimato, mas que, a exemplo do bom samaritano, possamos vê-los, sentir compaixão por eles, aproximarmo-nos e cuidar deles tocando-lhes as feridas e que não os deixemos ao relento, mas possamos dar-lhes abrigo e proteção.
Pe. Emerson Cícero de Carvalho
Coord. da Dimensão Sociotransformadora da Evangelização
Presidente da Cáritas Arquidiocesana de Maringá