Cáritas e o Bem Viver[1]
“Se dou comida aos pobres eles me chamam de Santo.
Se eu pergunto por que os pobres não têm comida,
eles me chamam de comunista”.
(Dom Hélder Câmara)
A Cáritas Brasileira, fundada ainda na década de 1950, contou com apoio incansável de Dom Helder Câmara em sua idealização e criação. Vale lembrar que, naquele período, a sociedade brasileira vivia um momento de agravamento das condições de vida e alterou as relações sociais, sobretudo de trabalho, tanto na cidade como no campo. As marcas profundas da desigualdade social iniciadas pela colonização foram agravadas por sucessivas orientações políticas autoritárias, assim como, resultou em uma economia nacional condicionada ao mercado internacional.
Desde o princípio, a Cáritas Brasileira se propõe a explorar caminhos na perspectiva da solidariedade libertadora. Sendo um organismo vinculado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tem por missão, defender e promover toda forma de vida, participar da construção solidária da sociedade do Bem Viver, junto àqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade e exclusão social.
Assegurar a justiça social, uma vida plena em comunidade e a prática da solidariedade como fundamento das ações humanas, constituem os parâmetros que norteiam as diretrizes de ação Cáritas. A construção solidária, sustentável e territorial de um projeto popular de sociedade democrática e de direitos, necessariamente se orienta por princípios que implicam na defesa e promoção da vida para a construção da sociedade do Bem Viver; mística e espiritualidade libertadora, ecumênica e inter-religiosa; cultura de solidariedade transformadora; protagonismo das pessoas em situação de vulnerabilidade, de risco e/ou exclusão social; democracia participativa e justiça socioambiental; relações de equidade étnico-raciais, de gênero e geração; pastoralidade e transformação social; Cáritas no coração da igreja e na sociedade no serviço com os pobres.
O Bem Viver, enquanto filosofia de vida, busca romper com as formas de pensar e de viver que levam ao individualismo, porque, subjuga o social, escondendo-o sob o critério absoluto do indivíduo em sua vontade, necessidade e interesses particularistas. Na sociedade do Bem Viver, os seres humanos são vistos como uma promessa, não como ameaça, ou motivo para concorrência. Bem Viver é diferente de “Viver melhor”, trata-se de um projeto libertador e tolerante, sem preconceitos ou dogmas. Um ponto de partida para construir democraticamente sociedades solidárias.
Deste modo, o Bem Viver, enquanto horizonte de mundo, assenta-se na dinamização de uma outra forma social, amparada nos princípios da Economia Popular Solidária e na integração política orientada àquilo que nos é partilhado: nossa casa comum. Assim que, entre os princípios que norteiam nossa atuação social local, encontra-se a defesa aguerrida de uma nova forma de sociabilidade a que se denomina Sociedade do Bem Viver. Trata-se, em síntese, de uma relação social que encontre na diversidade, na pluralidade e na harmonia entre os povos e destes com a natureza o alicerce do fazer e do ser solidário.
Rodolfo Sanches
Presidente da Cáritas Arquidiocesana de Maringá.
Doutor em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista – Júlio de Mesquita Filho (UNESP),
Professor voluntário da Escola de Cultura, Fé e Política da Cáritas Maringá.
[1] ACOSTA, Alberto. O Bem Viver: uma oportunidade para imaginar outros mundos. São Paulo: Autonomia Literária, Elefante, 2016. 264 p.
Para aprofundar, acesse: https://caritas.org.br e http://www.caritasmaringa.org.br .